UM PEQUENO PASSO PARA O BRASIL, MAS UM SALTO GIGANTESCO PARA A HUMANIDADE

PRESS WORKERS

No final, o interesse em proteger o meio ambiente e a biodiversidade prevaleceu sobre o risco de perda econômica para alguns produtores rurais.

No dia 23 de fevereiro, o Brasil deu um passo à frente em termos de proteção humana e ambiental ao proibir, a partir de agora, a pulverização aérea do tiametoxam na produção agrícola, para salvaguardar uma espécie ameaçada de extinção responsável por 70% da polinização de plantas – maçãs, laranjas ou café – com a qual a produtividade e a qualidade das culturas só tendem a aumentar; veremos o que acontece com as demais que estão no mercado e que são mais de 500 produtos autorizados, dos quais mais de 30 são novos, com novos ingredientes ativos.

O tiametoxam é um inseticida neonicotinoide que pertence a uma classe relativamente nova de inseticidas, uma classe química de inseticidas cujo uso é o que mais cresce; eles interferem no receptor nicotínico de acetilcolina das abelhas e, portanto, têm uma ação específica no sistema nervoso dos insetos, fazendo com que eles fiquem desorientados, causando um distúrbio em seus sistemas de aprendizagem, digestão e imunização, e até mesmo levando, em alguns casos, à morte, por isso foi encontrado até mesmo no próprio mel que é comercializado.

abeja muerta

A decisão impacta uma indústria multimilionária, na qual a comercialização de produtos como o tiametoxan chegou a 4.800 toneladas no Brasil em 2022, de acordo com dados coletados por órgãos especializados. Em 2022, de acordo com dados coletados por órgãos especializados; daí a importância da medida, pois, embora não represente uma mudança significativa na contaminação direta por agrotóxicos – aquela realizada por aplicação direta nos produtos alimentícios que consumimos -, ela foca especificamente na sobrevivência de uma espécie tão essencial quanto necessária à vida humana, a das abelhas, polinizadoras por excelência e responsáveis pelo manejo de uma riqueza alimentar única.

A medida foi anunciada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que decidiu restringir o uso do pesticida, de modo que os agricultores serão proibidos de usar o veneno por meio de pulverização em aviões e tratores, (Em 2 de janeiro, o IBAMA já havia proibido outros pesticidas para proteger as abelhas, como o fipronil, também conhecido por seus efeitos nocivos sobre a espécie, que passou a ser chamado de “o matador de abelhas”).

PARA UMA MELHOR COMPREENSÃO

Para uma melhor compreensão do assunto, é necessário enfatizar que o termo “agroquímicos” refere-se à ampla gama de substâncias químicas usadas para combater ou prevenir ataques de pragas na agricultura e para eliminar toda a vegetação estranha à cultura. São utilizados para eliminar insetos, ácaros, fungos, roedores, caracóis, vermes etc.; também como desfolhantes, dessecantes, como agente redutor de densidade, para evitar a queda e/ou deterioração dos frutos, entre outros. Eles são agrupados de acordo com seus usos: inseticidas, fungicidas, herbicidas, nematicidas, acaricidas, desfolhantes, miticidas, roenticidas, anticriptogâmicos. As maiores categorias são: pesticidas, fungicidas e herbicidas.
Deve-se observar que essa não é a única maneira de produzir mais e melhores produtos alimentícios: experiências comprovadas em todo o mundo já demonstraram ser tão ou mais eficazes, sem prejudicar o meio ambiente ou causar danos à qualidade de vida humana.

NO URUGUAI

“É possível no Uruguai produzir alimentos de forma agroecológica”, diz María Isabel Cárcamo, autora de Los Plaguicidas Altamente Peligrosos (Paguicidas Altamente Peligrosos, HHP) en Uruguay, publicado em junho. O documento propõe a promoção de um sistema agroecológico baseado em alternativas para reduzir as populações de “organismos-praga”, por exemplo, “fazendo uso do controle biológico com insetos, fungos, bactérias e vírus benéficos e usando extratos de plantas”. Além disso, ele sugere que poderiam ser usadas “práticas de cultivo que diversificam o agroecossistema, como associação e rotação de culturas, culturas armadilhas e culturas repelentes”.

“Poucas pessoas têm consciência da quantidade de venenos a que estão expostas diariamente, tanto em casa quanto no local de trabalho. Inseticidas usados para ‘curar’ plantas ornamentais, iscas tóxicas para matar caramujos e lesmas, raticidas, herbicidas para matar plantas indesejáveis consideradas ‘ervas daninhas’, mata-formigas, todos fazem parte do coquetel tóxico com o qual convivemos”, diz Cárcamo. Além dessas substâncias, continua o autor, “há outras que consumimos sem saber em frutas e verduras, devido aos resíduos dos múltiplos agrotóxicos que são aplicados a elas antes de chegarem às nossas mesas. Por sua vez, as pessoas que aplicaram esses pesticidas nos campos também foram expostas a seus efeitos sobre a saúde.

bee abejas

Uma carga de laranjas uruguaias com pesticidas foi rejeitada pela Itália em 2019, por ter uma proporção de 0,1 miligramas por milhão do pesticida Fenthion, que é considerado categoria 2 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “moderadamente perigoso”. No entanto, o Regulamento Bromatológico Nacional estabelece que, no caso do Fenthion – que é usado principalmente para controlar moscas-das-frutas -, o limite máximo é de 2 miligramas por milhão para frutas cítricas, cerca de 20 vezes mais do que nos países do primeiro mundo.

De acordo com o site especializado espanhol HortoInfo, o Fenthion é estritamente restrito naquele país por ser prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente, podendo causar náuseas, vômitos, dores abdominais, incontinência urinária e fecal, hipersecreção brônquica, broncoespasmo, sudorese, olhos lacrimejantes, sialorreia, entre outros.

Da mesma forma, entre outras frutas comercializadas na Unidade Agroalimentar Metropolitana (UAM), os morangos produzidos no Uruguai em 2023 apresentaram traços de cinco pesticidas, três dos quais não foram autorizados pelo Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca (MGAP). Em 2020, de acordo com a IPEN (International Pesticide Elimination Network) e a Red de Acción en Plaguicidas y sus Alternativas de América Latina (RAP-AL), 81 pesticidas altamente perigosos foram autorizados no Uruguai.

César Vega, do Partido Ecologista Radical Intransigente (P.E.R.I.), apresentou um projeto de lei em maio de 2021 para regulamentar o uso seguro de pesticidas, “agrotóxicos tóxicos”, como ele os chama, em áreas rurais e urbanas; ele entende que “se são venenos, são venenos e não devem estar nos alimentos”, como enfatizou no mesmo ano em uma entrevista a um jornal uruguaio.Entretanto, até o momento, o projeto de lei ainda não foi aprovado pelo legislativo uruguaio.

DESACUERDO

Também devem ser mencionadas as reiteradas decisões judiciais e multas aplicadas contra as empresas fabricantes desses poluentes cancerígenos, como metomil, oxamil, clorpirifós, glifosato, mancozebe, imidaclopride, clotianidina, fipronil e cipermetrina, entre outros produtos fitossanitários responsáveis por malformações fetais, mutações genéticas, disfunções hormonais e reprodutivas.

Diante desse panorama, como podemos acreditar ou respeitar os mercenários do lobby do agronegócio que, protegidos pela liberdade de imprensa, chegam a expressar barbaridades como “as ideias da mãe do ambientalismo resultaram em milhões de mortes”? [em alusão a Rachel Carson, cujo interesse em nos fazer entender os danos indescritíveis que o DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetanol) poderia gerar nas gerações futuras, é creditado como causador da morte de milhares de pessoas infectadas pela malária, como se não houvesse outra forma de combater a doença]. Como a maioria desses produtos não é permitida para a produção de alimentos na Europa ou na Inglaterra, por que eles ainda podem ser usados pelos sul-americanos?

Richard Enry Ferreira

Loading

Produtor e documentalista, investigador, escritor, jornalista e amigo da natureza.

error: Content is protected !!
Rolar para cima