agrotóxicos audiência pública

AGROTÓXICOS, UMA DISCUSSÃO NECESSÁRIA

PRESS WORKERS

Necessária, nem tanto… é o que parece.

Embora o assunto seja importante, parece que para o município de Santa Vitória do Palmar, para as autoridades, os partidos políticos e a população em geral, ele é menos relevante do que a questão das praias e do Albardão.

Outros interesses

Essa atitude foi evidenciada pelo baixo comparecimento da população local na Audiência Pública realizada a partir das 14:00 horas da sexta-feira, 30 de agosto. Conforme anunciado em publicação anterior, o encontro foi realizado no auditório do Laboratório de Pesquisas em Turismo (LATUR) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

Na oportunidade as palavras de apertura foram de Romulo André Alegretti de Oliveira, Analista do MPU e Secretário Executivo do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (FGCIA), quem apresentou a: Noedi Rodrigues da Silva – Procurador do Trabalho e Coordenador (FGCIA); Suzete Bragagnolo – Procuradora da República e Coordenadora Adjunta (FGCIA); Daniel Soares Indrusiak – Promotor de Justiça da comarca; do Diretor da LATUR-FURG Fernando Comiran e da Tte.

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A realidad local

Embora seja delicado falar de agrotóxicos, por afetar o modo de produção econômica da região e por ser o único meio de combate às doenças agrícolas que muitas gerações conhecem há décadas, é necessário destacar que antes dessas substâncias entrarem em nossas vidas – após a Segunda Guerra Mundial, quando a indústria petroquímica passava pelo maior processo de desenvolvimento do século e a população precisava de alimentos – já havia no mundo outros meios de produção em massa menos gananciosos, que criavam alimentos em sinergia com a natureza local, sem danificá-la ou destruí-la, sem nos destruir.

Iniciando as palestras foi a vez de Michele Neves Meneses (Doutoranda Programa de Pós Graduação em Enfermagem da UFRGS, Movimento Saúde pelos Povos – Círculo Brasil, GT, Educação Popular e Saúde da ABRASCO, Pesquisadora Participatório Fiocruz), quem falou do Impactos dos Agrotóxicos na Saúde e na função Reprodutiva das pessoas.

Ela enfatiza os riscos do glifosato, incluindo leucemia e problemas de saúde infantil, e a subnotificação de intoxicações no Sistema Único de Saúde, que agrava a situação. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, superando países como China e Estados Unidos. O uso do glifosato é particularmente preocupante devido aos seus impactos na saúde humana.

Os agrotóxicos, como o glifosato, estão presentes na água potável e no ambiente, gerando riscos à saúde da população. As evidências mostram que sua exposição está ligada a várias doenças crônicas. Nos últimos quatro anos, a região de Pelotas registrou quase 3.000 casos de intoxicação exógena, principalmente por agrotóxicos. A subnotificação é um grande problema, tornando os números reais muito maiores.

O uso de agrotóxicos pode resultar em sérios problemas de saúde, incluindo intoxicações agudas e crônicas. A dificuldade em notificar esses casos afeta a análise epidemiológica das doenças relacionadas.O projeto aborda a saúde da mulher e a saúde reprodutiva, especialmente em relação à exposição a agrotóxicos e seus efeitos. Os dados ressaltam a importância de compreender as exposições ambientais que afetam esse grupo.

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Seguidamente, foi a vez de Paulo Duarte (Engenheiro Agrônomo e Analista Ambiental da Fundação de Proteção Ambiental do RS, Produtor de Arroz Orgânico em Santa Vitória do Palmar – RS – Brasil) quem falou da incidência dos Agrotóxicos no Extremo Sul do Brasil, a perspectiva dos Usuários, Impactos e Controle na área da fumigação aérea.

Destaca a importância da fiscalização, as áreas de exclusão e a necessidade de um sistema de monitoramento mais eficaz para evitar contaminações e garantir a saúde da população e do meio ambiente.

O campo de atuação da aviação agrícola no Brasil enfrenta desafios significativos, especialmente em relação ao licenciamento ambiental. É fundamental debater e buscar soluções para esses conflitos com a população. O licenciamento ambiental na aviação agrícola é crucial para garantir práticas sustentáveis e a preservação do meio ambiente. Isso se torna essencial, considerando a relação entre a agricultura e os impactos ambientais.

A problemática da aviação agrícola envolve desarticulações legais e falta de comunicação entre fiscalização ambiental e agricultura. Essa situação resulta em desafios para o controle de deriva de agrotóxicos. O impacto da aviação agrícola nas áreas urbanas de Pelotas é um problema significativo. A falta de controle e regulamentação adequada afeta diretamente a segurança dos cidadãos locais.

A necessidade de um sistema de rastreamento para aviação agrícola é crucial para garantir a segurança e eficiência nas aplicações. Esse monitoramento deve ser realizado 24 horas por dia, permitindo um controle efetivo das atividades.

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Continuando com as apresentações, falou o Professor Antônio Libório Philomena (Oceanógrafo, Mestre em Ciências Marinhas e Doutor em Ecologia), quem falou do Cenários de Distribuição dos Agrotóxicos na Planície Costeira Sul do Brasil, a incidência dos ventos e a falta de análises, estudos e vontade governamental de impor medidas de maior controle a os produtores que utilizam os produtos em detrimento do direito de aqueles que trabalham na agroflorestal.

Ele destaca a contaminação da água e do solo, enfatiza na necessidade de monitoramento e análise dos efeitos dos agrotóxicos, propondo a instalação de estações meteorológicas e a realização de estudos sobre a contaminação em humanos e no ecossistema.

A situação atual da Lagoa Merim é preocupante devido à poluição e ao uso de agrotóxicos. É essencial discutir como preservar esse recurso hídrico valioso para o futuro. A poluição na Lagoa Mirim é um problema complexo que envolve muitos fatores, incluindo a falta de projetos desde 1975 para mitigar essa situação. O impacto dos agrotóxicos e a dinâmica do vento agravam ainda mais a contaminação na região.

O Brasil enfrenta um atraso significativo na ciência da hidrologia subterrânea, o que dificulta o entendimento e a gestão da água. Exemplos práticos mostram a gravidade da situação e a falta de conhecimento.

A volatilização de agrotóxicos é uma questão crítica, frequentemente subestimada em comparação com a deriva. É importante compreender os fatores que contribuem para essa volatilização para mitigar os impactos ambientais.

A poluição causada por agrotóxicos no Brasil é alarmante, com 75% da água contaminada em 2014. Esse número aumentou a cada ano, atingindo 88% em 2016. O uso excessivo de agrotóxicos no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, está causando danos ambientais significativos e colocando a saúde da população em risco. A falta de políticas eficazes para reduzir esses produtos químicos agrava a situação.

A análise de contaminantes em solo e na saúde da população é crucial para entender os impactos dos agrotóxicos. É necessário realizar estudos para obter dados confiáveis que fundamentem ações efetivas.

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Posteriormente, foi a vez de Mauro Lúcio de Souza Júnior (Economista, Chefe da Unidade Técnica do IBAMA em Rio Grande) quem relatou o trabalho de combate à fraude e o contrabando de Agrotóxicos: Operações de Fiscalização Ambiental, dificuldades e triunfos na área, com apreensão e apreensão de milhares de toneladas de herbicidas por ano.

A fiscalização ambiental no Brasil é regida por leis e decretos que visam combater o uso de agrotóxicos sem registro, além de prevenir crimes ambientais. O Ibama atua em parceria com outros órgãos, aplicando multas e realizando operações de fiscalização, especialmente no Rio Grande do Sul, com foco em produtos contrabandeados e falsificados.

A fiscalização ambiental no Brasil é regida por leis federais e estaduais, sendo essencial para a proteção do meio ambiente. Esta fiscalização é pautada pela Política Nacional do Meio Ambiente e requer a atuação de diversos órgãos. A fiscalização ambiental no Brasil é crucial para prevenir crimes e infrações relacionadas ao meio ambiente, especialmente no uso de agrotóxicos. A atuação envolve diversas organizações e parcerias para garantir a proteção ambiental.

As principais estratégias de ação do Ibama incluem fiscalização rigorosa e monitoramento constante. Essas ações visam coibir infrações e promover a sustentabilidade ambiental no Brasil. As operações de combate ao crime organizado no setor agrícola são essenciais para garantir a segurança alimentar. As autoridades, como a Polícia Federal e o Ibama, desempenham papéis cruciais nesse processo.

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Governança na prática

Por fim, foi aberta a conversa com os presentes, e foi dada a palavra a Sofía Figueroa, representante da sociedade civil organizada da fronteira Chuy/Chuí, seguidamente falou Édres Giovani Plá Rodrigues, Diretor de Vigilância Sanitária e Epidemiológica da Prefeitura Municipal de Santa Vitoria do Palamar, imediatamente interveio Ronaldo Cataldo, do ICMBio-RS, e demais presentes, que destacaram a importância desses espaços de conversa, conhecimento e compreensão do tema, já que, segundo todos, trata-se de um problema de direitos humanos, de saúde e vida, não apenas de um modelo de produção agrícola.

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Outras realidades

Hoje, quando o mundo inteiro está chocado com o que aconteceu na Grécia, onde de acordo com Dimitris Klaudatos, professor do Departamento de Agricultura, Ictiologia e Ambiente Aquático da Universidade da Tessália, que conversou com a Agencia EFEverde, “esse fenômeno está intimamente relacionado às graves inundações que devastaram a região em setembro de 2023. As fortes chuvas transbordaram o Lago Karla, que cobre cerca de 2.500 hectares. A água inundou cerca de 20.000 hectares de plantações ao redor. “Devido ao desvio de cursos d’água ou ao rompimento de represas, muitos peixes de água doce do lago entraram nessas áreas inundadas”, explica Klaudatos.

Mas, poucos se deram conta de que não foi a salinidade da água do mar que matou as 57 toneladas de peixes, mas sim os pesticidas usados nas lavouras, pois eles já haviam chegado mortos aos canais que levam ao mar, levando até a alguns a sugerir a instalação de redes para que esses peixes mortos não acabassem no Golfo Pagasético nem nas praias de Volos.

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Assim, vemos como a presença silenciosa do mal da modernidade, que a própria Rachel Carson anunciou em seu livro “Silent Spring” (Primavera Silenciosa), publicado em 27 de setembro de 1962, continua mais letal do que nunca. Certamente existem alternativas, mas os interesses do poder econômico não se importam, pois, cuidar do planeta e proteger nossa saúde não é lucrativo, mas em todo o mundo os produtos orgânicos valem mais e têm um mercado melhor, então…. por que não apostar nesse nicho?

Em uma edição posterior, ampliaremos as apresentações dos membros do painel, com audiovisual e um resumo em texto, da intervenção de cada um deles.

Richar Enry Ferreira

Fonte: https://efeverde.com/mueren-de-decenas-de-miles-de-peces-de-agua-dulce-en-las-costas-de-grecia/

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Produtor e documentalista, investigador, escritor, jornalista e amigo da natureza.

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