A educação e o observatório ambiental

A EDUCAÇÃO E O OBSERVATÓRIO AMBIENTAL

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Dois aspectos fundamentais para uma verdadeira transformação da realidade ambiental

Como venho discutindo em publicações anteriores, a questão ambiental parece uma preocupação recente ou da moda, porém, para muitos é um tema real de trabalho há décadas.

Nesta oportunidade, conversamos com o professor Carlos Machado, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Brasil, para saber o que é educação ambiental para professores, professoras e graduandos da universidade, e para entender melhor o que é o trabalho do Observatório de conflitos urbanos e socioambientais do sul do Brasil e leste do Uruguai.

Prof. Carlos Machado

 

 

Carlos Machado é Professor titular na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) em Políticas Públicas da Educação (licenciaturas) e Fundamentos da Educação Ambiental no Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental (PPGEA) onde foi coordenador entre 2015-2017., Pesquisador, Orientador e Supervisor dos Cursos de Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado em Educação Ambiental

 

 

Quando questionado sobre o Observatório, relatou que neste programa: “desde 2010 –com ex alunos que passaram por estes cursos de Mestrado, Doutorado e Pós Doutorado- organizamos um observatório dos conflitos, aqui do extremo Sul do Brasil, e a partir de 2015, com profissionais do leste de Uruguai”, embora não trabalhamos diretamente como a educação ambiental nas escolas; salvo exceções, nosso intuito é a questão filosófica, os fundamentos e não o processo educativo.

A partir do que está acontecendo e é publicado em “La Diaria” y “El País” do Uruguai, assim como em um jornal de Pelotas e outro de Rio Grande, começou-se a perceber que havia uma estreita relação entre os problemas ambientais e determinados grupos sociais, pois há uma desigualdade de cuidados ou de tratamento do meio ambiente para aqueles que vivem nas áreas centrais em relação aos que vivem nas periferias marginais de uma comunidade.

observatorório socioambiental

Para o professor, a injustiça ambiental urbana por exemplo “se traduziria em que pobres y negros são empurrados para viver em áreas mais degradadas, áreas próximas a rios, áreas de antigos banhados, que se alagavam, são a representação dessa injustiça”. No entanto, o conceito é mais amplo, pois engloba também a mobilidade urbana, a promoção ou o incentivo ao transporte individual e a geração de impactos sociais e ambientais que também são analisados.

Perguntado se o motivo desses conflitos é a ganância empresarial, o desinteresse social ou irresponsabilidade política, respondeu: “eu diria que são um conjunto de fatores. Tem a ver como o lucro, a ganância das empresas; por parte dos governos existe uma preocupação retórica, no discurso, e algum deles fazem por pressão; e com o antropocentrismo, ou seja, esse modo de ver as coisas nesses últimos duzentos anos, que coloca o ser humano no centro de pensar as coisas e o mundo, também construiu a ideia de nossa separação com a natureza, vendo-nos como superiores a natureza e aos demais seres vivos”.

omjusticia ambiental

 

“Racismo ambiental refere-se a qualquer política, prática ou diretiva que afete ou prejudique de maneira diferenciada (intencional ou não) indivíduos, grupos ou comunidades com base em raça ou cor.”

Benjamin Franklin Chavis Jr. ativista que fora assessor de Martin Luther King Jr. 1982

 

E é desse análise antropocêntrico, que surge a ideia do racismo ambiental, “porque não é todos os homens: é os homens brancos sobre os negros, os homens sobre as mulheres, adultos sobre as crianças, os europeus sobre os latino-americanos, ou os norte-americanos sobre os demais da América, os israelenses sobre os demais ou uma minoria deles pelo menos sobre o mundo”, então muitas dessa concepções sócias tema muito a ver com a questão ambiental.

comoditis progresistas

 

O “Consenso das Commodities” destaca a entrada da América Latina numa nova ordem económica e político-ideológica, sustentada pelo boom dos preços internacionais das matérias-primas e bens de consumo cada vez mais exigidos pelos países centrais e pelas potências emergentes.

Maristella Svampa

 

 

Questionado sobre o viés filosófico da luta ambiental, argumenta que a questão vai além da política de esquerda ou direita; “o centro do tema é o desenvolvimentismo, entendendo-o, entre os governos progressistas e os governos neoliberais da América Latina, que tínhamos que explorar o meio ambiente, explorar a natureza minerar e produzir essas mercadorias para o mercado externo internacional e a partir disso teríamos os recursos para poder investir nas melhorias de vida da população”. A questão e que essa visão do mundo é muito forte e leva más de duzentos anos sendo aplicada.

Finalmente concluiu que a verdadeira educação ambiental, no entender dele, e aquela que é baseada na realidade, essa que eles vêm observando na região, onde a população expressa o seu interesse e demostra sua desconformidade como a desigualdade social que resulta de umas inequidades de forças que prejudicam sempre aos pobres, negros, índios e mulheres.

Por esse motivo, do dia 8 a 11 de novembro acontecerá o XV Espaço e Diálogos com a Educação Ambiental, comemorando os 30 anos do Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental (PPGEA 1994), que tem como objetivo principal formar pesquisadores e docentes que contribuam com a produção e a promoção de conhecimentos dos mais diversos aspectos presentes no campo da Educação Ambiental.

Ao longo de sua história, o programa passou por diversas transformações, entre elas a oferta de doutorado a partir do ano de 2006 em três linhas de pesquisa: Fundamentos da Educação Ambiental, Ensino e Formação de Educadores (as) e Educação Ambiental Não Formal.

XV Encontro FURG XV ENCONTRO AMBIENTE RS

A proposta para o ano de 2023 é discutir os avanços e os desafios enfrentados para a existência de uma Educação Ambiental transformadora, dialogando com instituições uruguaias de educação ambiental e ONGs da região a partir das seguintes questões geradoras:

  • Quais são os atravessamentos para a formação docente?

  • Quais discussões vêm sendo levantadas a respeito da relação da EA com as mais diversas comunidades?

  • Que interlocuções epistemológicas estão sendo construídas enquanto produção de conhecimento teórico?

Para mais informações click aqui EDEA/FURG

Richar Enry Ferreira

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Produtor e documentalista, investigador, escritor, jornalista e amigo da natureza.

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